sábado, 23 de fevereiro de 2013

Dedicatória ao meu avô Wilson Rocha

Eu não sou meu pai. E não tenho nada de minha mãe. Se não fosse a parecência física com a família de meu pai, admitiria de bom grado que não faco parte disso. Mas é real. E toda vez que olho no espelho, essa verdade está lá. Vejo o que tenho de meu avô, e dele tenho saudade. E lembro dele, pobre homem. Fez um império material e acabou. Mas a genética, não sabia ele, fez muito mais. Vive mais. Beijo, vozinho, ido a 19 anos atrás. Ainda está aqui um Rocha. Que mantêm a dignidade de vosso nome, tão bem como o respeito que o fizeste merecido. Mantendo a honra e o trabalho que o sobrenome que me passaste, ficará pra sempre vivo, e que para todos os herdeiros desse sobrenome, torço para que vivam, o mesmo orgulho do senhor. Obrigado, por me visitar em sonho. Um dia espero descansar pra sempre em Santa Izabel do Pará, onde sempre foi meu lar. Te amo!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Dia que o Medo Venceu


            Ela acordou antes do despertador. Acordara pelo barulho da sirene que dava início aos trabalhos no prédio vizinho, que estava em construção. Passou algum tempo até ela se levantar. Lembrou dele. Onde ele estaria? Teria comido? Teria dormido? Aquilo lhe preocupava.

            Pensava nos encontros que já tiveram. Nos que ainda poderiam ter. Lembrava-se dos risos. Riso solto, corriqueiro. Bobo até. Pensou nas coisas que ele lhe explicava. Falava de poetas e filósofos como se estes fossem seus amigos, vizinhos ou, até mesmo parentes. Gostava de ficar olhando pro rosto dele enquanto ele falava. Gostava de olhar pro rosto dele sempre. Havia uma passionalidade peculiar nos olhos. Uma intensidade. No rosto, nos movimentos, no modo como ele falava. Algo que ela admirava. E que, de certa forma, a assustava também.

            Ele não dava um sinal de vida. Não mandava uma mensagem ou uma ligação. Ela só queria saber se ele estava bem. Em dias como esse ela costumava devanear. E aquele silêncio a oprimia. Apertava-lhe o peito. Então ela buscava a companhia de pessoas. Parentes e amigos, precisava desvencilhar-se dele. Mas ainda assim, nesses momentos ela mal ouvia as pessoas a sua volta, ora falavam com ela, ora falavam entre si. Mas não importava, pois ela não ouvia. Ouvia apenas murmúrios. Como fantasmas num sonho. Ouvia somente o Medo lhe sussurrar: “Será sempre assim. Ele vai sempre sumir. Está na natureza dele e ele nunca mudará.” Ela respondia: “Sim. Ele não mudará. Não poderia. Morrerá jovem e intenso. Tal qual viveu sua vida.”

            Não podia viver daquele jeito. Não podia viver de espera. E o Medo crescia e lhe esfriava o coração. Quando estavam juntos era sempre bom. Ele cuidava dela, segurava sua mão firmemente. Ela sentia-se segura e ele lhe afagava a cabeça. Pensar nele era sempre um jeito morno de escapar do cotidiano. Ela se lembrava do Abraço dele. Ele a tomava nos braços e ela se derretia. Era mais disso que ela tinha medo, o Abraço. Com aquele Abraço ele podia arrancar-lhe a alma. Sim, podia trasladá-la para ele. Por vezes se esqueceu de respirar quando ele a tomava nos braços.

            O Medo, impiedoso inimigo do Amor, não permitia. Ele soprava-lhe mentiras e blasfêmias, possibilidades aterrorizantes e isso faziam com que ela se fechasse. Fechava as portas pra que ele não avançasse mais dentro dela. Ela não deveria permitir. Tinha seu filho pra criar. Tinhas os seus entes pra velar. Se ele a tomasse tudo estaria fora do seu controle. E ela nunca havia perdido o controle, o saber de tudo em que derramava sua vida. Aquilo devia acabar antes que acabasse com ela. E ela manteve-lhe distante, esquivando-se do seu tão perturbador Abraço.

            Ela passou a escapar do seu olhar. Era um jeito seguro de mantê-lo longe do coração. E o Medo acalantava a Saudade que lhe doía. O silêncio a ajudava também a empurrar ele pra fora de sua vida. E aos poucos o Medo a amorteceu. Solucionava-lhe as dúvidas com certezas mentirosas. Através do Medo ela viveria em paz, pois ele a manteria distante do que poderia lhe ser perigoso. Através dele ela viu uma vida segura, outros braços. Então, naquele dia, decidiu Mentir. Ah, a Mentira quando aliada ao Medo pode matar um deus. E naquele dia matara o Amor. Recolheu ao silêncio, toda a canção. Naquele dia não houve poesia. Uma estrela quedou-se. Sim, senhoras e senhores, naquele dia, naquele nefasto dia, O Medo venceu.